Ângela, gostei
muito da sua resposta. Não ligo para irreverência. Em pleno
2001, este termo pode ser comparado com maquina de datilografia. Vai
tudo para o Museu! O meu passado é cheio de contraste. Nasci em 2 de fevereiro de 1924. Minha mãe tinha 24 anos e já
encontrei meu irmão com dez. Casou-se com 13 anos. não
podia dar certo. Sou caipira do interior de São Paulo: Cajobi,
entre Bebedouro e Olimpia, região de Ribeirão Preto.
Ela se separou do meu pai em 1927 (eu tinha três anos) e mudamos para Marilia-SP. Era uma mulher de coragem, valente e batalhadora
e resolveu enfrentar o Rio de Janeiro (1934). Inicialmente, fomos morar num
quarto na rua Dna. Minervina - Estácio de Sá, hoje não existe mais, era
perpendicular aa rua Machado Coelho. Para açodá-la,
fiz uma caixa de engraxate e fui engraxar na zona boemia do Mangue (rua Carmo Neto), meretrício da barra pesada. Toda minha
feria, repassava pra minha querida batalhadora. Ela também lutava,
empregando-se numa lavanderia na Pca. da Bandeira, para sergir roupas.
Mudamos para o morro São Carlos, atrás da penitenciaria Frei Caneca. Depois
compramos um barraco no Rio Comprido, em Sta.
Alexandrina. Nesta favela, resolvi vender serragem a dez tostões o saco. Hoje,
talvez um real. Conseguia graciosamente numa serraria, quase defronte aa
Fabrica de Doce Colombo, hoje, rua Joaquim Palhares
(naquela época era rua são Cristóvão). Os favelados de Sta.
Alexandrina eram todos meus fregueses. Ao lado do nosso barraco, morava Dna. Neta. Era irmã do cantor
Ataulfo Alves. Nossa vizinha chamava-se Antonieta Alves, todos eram nascidos em
Miraí-MG. Eu fazia o primário no grupo escolar,
Escola Pereira Passos, no Lgo. do Rio Comprido. Meu único irmão morava em Santos-SP e
veio para o Rio morar conosco. Deixei de vender serragem e fui agudá-lo no
serviço de eletricista. Estourou a 2a. guerra mundial e minha classe estava sendo convocada para a
Forca Expedicionária. Minha mãe ficou desesperada e para fugir deste
compromisso, entrei para o Corpo de Bombeiros, na época, do Distrito Federal.
Servi no Campo Santana. Depois de deixar de ser recruta, fui designado
datilografo do comandante geral: Aristarcho Pessoa
Cavalcanti de Albuquerque, ele era irmão do João Pessoa, da Paraíba, cuja
capital, hoje, tem o seu nome. O Getulio Vargas
trocou o nome da capital paraibana por João Pessoa. Nome todo do herói: João
Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Servi no CBDF durante quatro anos, dei baixa
em 1947 e fui ser datilografo na E.F.Central
do Brasil. No dia 2 de marco de 1948, vim para Jotafora,
estudar como aluno interno no colégio americano da Igreja Metodista, o
Instituto Granbery. Trabalhava
em troca dos estudos, alimentação e roupa lavada. Fui ser secretario do reitor
Victorio Bergo. Terminei o meu terceiro Cientifico,
fiz vestibular para odontologia, consegui boa classificação e formei-me em
cirurgião-dentista em 1951. Em 1948, ao chegar no Granbery, o reitor deu-me uma papeleta que dizia: Autorizo
a secretaria a matricular o aluno Waldemar Medeiros, no terceiro cientifico,
sem nenhum pagamento. Chegando lá, a funcionaria
gritou para o interior da secção: JAHYRA..., MATRICULA. Hoje é a minha amada.
Estava escrito que eu seria feliz. Sempre fui católico mas,
aqui na cidade, meus meus melhores amigos sempre foram
metodistas. Portanto, vc pode usar a irreverência aa
vontade. Fui favelado mas nunca puritano. Desculpa-me
tomar o seu precioso tempo, gosto de falar do meu passado. Tomo a liberdade de
anexar uma foto: eu entre minha filha caçula Naila
e minha Jahyra, o oxigênio da minha vida. Adoro
o Rio de Janeiro, idem de Minas e de todo o Brasil. só não gosto dos políticos.
Por falar neles, O Itamar Franco estudou comigo no Granbery,
foi meu colega de turma. Fizemos o terceiro ano juntos. Ele prestou vestibular de
engenharia e eu odontologia. Na idade em que estou, cheguei ao limiar da
existência humana. Enquanto Deus for me esquecendo, aproveitarei para namorar a
minha esposa. Gostei do seu português. Parabéns! Abraços do w@ldem@r.