Ingenuidade
Quando eu tinha dez anos de idade (1934),
mudamos de Marilia-SP para o Rio de Janeiro. Fomos morar no Morro São Carlos
(rua São Roberto, 163). Minha genitora sempre foi analfabeta e eu era
encarregado de fazer cartas aos parentes. Eu era o elo da comunicação.
Sempre saiamos juntos e eu me encarregava de ler os nomes dos bondes ou ônibus.
Numa desta, paramos no largo do Estácio de Sá e ela perguntou a um pedestre:
"Por favor, o bonde Uruguai Engenho Novo passa aqui?". A pessoa
confirmou. Mamãe sempre enérgica passou-me o nome do veiculo elétrico.
Ficamos ali mais de uma hora e nada. Ela, muito nervosa, tornou a perguntar:
"Por favor, o bonde Uruguai Engenho Novo passa aqui?". A pessoa
respondeu: "Olha um chegando aí!". mamãe com muita raiva, pegou-me
pelo braço e jogou-me dentro do bonde. E começou a dar-me aquela lição de
moral: "Afinal, você sabe ou não sabe ler?". Respondi: "mamãe
neste bonde não está escrito Uruguai Engenho Novo".
-"Menino, o que é que está escrito então?". Dentro da minha
ingenuidade respondi: "está escrito URUGY. ENG. NOVO". Aos
dez anos de idade, não conhecia palavras abreviadas. Para mim, isto
aconteceu ontem mas, na realidade, já vai para 67 anos. Quando se é feliz,
lembrar do passado é viver no presente. Abraços do w@ldem@r.